Aqui dizem que estou sempre com um sorriso na cara, que encaro cada adversidade com muita facilidade e que, por isso, estou a aguentar tão bem. Os meus amigos ficam incrédulos como consigo estar tão descontraída perante tantos acontecimentos, a minha família quando me vê mais cansada estranha logo e acha que já é algo de muito grave. Mas não é. Apenas começo a ficar farta e acho que é perfeitamente normal sentir-me assim. Um mês, minha gente! Amanhã faz um mês que estou internada!!!
As contrações são mais que muitas e os enfermeiros até ficam incrédulos como não me queixo. Todos os dias entram e saem senhoras para ter os seus bebés e, por isso, já conheci mais novas mamãs desde que estou aqui. Uma autêntica viagem pelo mundo sem sequer sair deste quarto: Paquistão, Roménia, Guiné, Angola, Cabo Verde, Brasil. Estas senhoras, ao contrário de mim, permanecem apenas dois ou três dias e, mesmo assim, acabam por chorar, porque não aguentam ficar aqui fechadas. Falam das suas culturas e o quanto lhes faz impressão adaptarem-se à nossa, lamentam-se e contam a sua história, choram constantemente agarradas aos namorados e ao telefone com as mães. Quando ouvem a minha história não querem acreditar e rapidamente me transmitem que não aguentavam. Como assim, não aguentavam? Pela saúde dos vossos filhos não aguentavam? Iriam chorar e lamentar-se diariamente para tudo isso ser passado para eles e dificultar toda a terapêutica para os aguentar o máximo de tempo na vossa barriga? Às vezes tenho mesmo de me desligar dos comentários alheios, porque são muito desmoralizantes.