Visita guiada ao meu mundo provisório - Birras em Direto

Visita guiada ao meu mundo provisório

Neste piso de hospital cruzam-se alegrias e tristezas, mães mais ou menos jovens com avós mais velhinhas. Numa parte temos o internamento das grávidas, cheias de amor pelos tesouros que ainda não conhecem e receio do que o futuro lhes reserva. Algumas entram com poucas semanas de gestação, outras já de termo, todas as histórias são diferentes, mas sempre marcantes. O medo, esse, é constante e invade cada uma de nós.

Colo curto, muito líquido amniótico, pouco líquido, bolsa rota, ameaça de parto pré-termo, o bebé está pequeno, o bebé está grande, diabetes, infeções, 41 semanas e nada, indução, etc. Estaria aqui muito mais tempo a indicar-vos as diferentes causas destes internamentos e, arrisco-me mesmo a dizer, depois disto sairei daqui com uma pós-graduação em maternidade, porque já aprendi coisas que não fazia ideia que existiam.



As que estão aqui há mais tempo, como é o meu caso, cruzam-se com as que estão prestes a ter os seus bebés, assistem ao seu desespero, ao desconforto das contrações e pensam como será quando chegar a sua vez. As de primeira viagem são sempre as mais inseguras, normal, cheias de dúvidas, não aguentam muito a dor e às vezes nem chegam a perceber muito bem o que são contrações e assustam-se também com as histórias que são contadas diariamente. Como as compreendo…

Não sei o que se passa comigo, mas agora não posso ver uma colega de quarto com contrações e também começo logo com as minhas. Deve ser por simpatia ou talvez se pegue, não sei. 🙂

Há grávidas muito amorosas, com as quais até já tenho alguma ligação, outras mais introvertidas, que não falam muito, e outras com um feitio de bradar aos céus, (minha nossa!) que reclamam por tudo e por nada ao invés de aproveitarem o seu estado de graça. Por mais complicada que seja a situação, as coisas não vão melhorar só por estarem de mal com a vida.

Mas adiante. Mesmo ao lado encontramos o serviço de ginecologia, por onde passam várias mulheres de diferentes faixas etárias. Também aqui os motivos são mais que muitos, mas, infelizmente, o aborto continua a destacar-se. Algo que me deixa muito triste.

Mais à frente temos o pós-parto, onde a mulher renasce, ainda que em pânico, com o novo grande amor da sua vida. Mas temos também as que estão de coração apertado, porque os seus tesouros ficaram na neonatologia. Já pensaram nisto? Lidam diariamente com a imagem de felicidade das outras mães, acordam com o choro dos outros bebés e os seus estão numa incubadora a lutar pela vida. Não sei qual será a sensação e nem sei se estou preparada para isso, apesar das altas probabilidades que tenho disso me acontecer brevemente. No momento, caso aconteça, logo tentarei lidar da melhor forma.

Quantas lágrimas, alegrias, tristezas, gargalhadas, gritos de dor, estas paredes de hospital já presenciaram? E os profissionais que trabalham aqui diariamente? A minha estadia, por mais longa que me pareça, na realidade será curta e já assisti a tantas coisas que não sei se conseguirei esquecer. Será que os que aqui trabalham alguma vez esquecem? Será que ligam o filtro quando picam o ponto? Não acredito. Por mais que se vão habituando, há sempre casos que tocam.

(Escrevi este texto quando estava sentada num cadeirão à porta do meu quarto, perto da meia-noite, e olhava para os corredores deste hospital)

Obrigada a todos estes profissionais por saberem cuidar tão bem de nós.

Um beijinho

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Comentários (2)

  • Impressionante como em tão pouco espaço tantas histórias de cruzam, tantas vidas, não é? A única coisa que me faz alguma confusão é a proximidade com que mulheres que passam por um aborto estão das futuras mães. Acho que isso deveria ser algo a ser repensado… Deveria haver um maior afastamento entre as duas situações para que as primeiras, num momento tão complicado das suas vidas, não tivessem de ouvir bebés a nascer e mães a passarem por trabalho de parto. Algo que os decisores e responsáveis da nossa saúde deveriam ter em conta…

    Tudo a correr pelo melhor! Está quase!

  • Carina rodrigues 6 anos ago Responder

    Olá Marta. Dei por mim todos os dias à espera do teu texto diário. É inacreditável a força e garra que tu tens. Parabéns por seres esse ser maravilhoso. Tens o dom de chegar às pessoas com as tuas palavras. Um beijo e um abraço cheio de força.

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