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Birras em Direto

Parto ou amamentação. Qual custa mais? Eu digo-vos.

Perdi a noção de quantas vezes me perguntaram se estava a amamentar os gémeos e decidi fazer um artigo sobre o tema. Atenção, este texto reflete apenas aquela que foi / tem sido a minha experiência. Em nenhum momento estarei a generalizar seja o que for.

A amamentação do Rafa já tinha sido um processo complicado, porque não tive um bom acompanhamento no pós-parto, era “marinheira de primeira viagem”, não sabia o que significava uma boa pega para o bebé e, consequentemente, não sabia se ele estaria bem alimentado. Naturalmente, o Rafa perdeu mais de 10% do peso esperado nos primeiros dias. A descida do leite deu-se cinco dias após o seu nascimento e até lá foi introduzido suplemento. Ao que parece, os meus mamilos não eram bons para a pega por não serem proeminentes. Tenho implantes e, mal desceu o leite, tive dores horríveis, chorava de manhã à noite, porque estes estavam a fazer uma grande pressão. Ainda assim, aguentei até aos dois meses e meio que o Rafael mamasse no meu peito e bebesse suplemento.

O Rafa superou as melhores expectativas

Cheguei a escrever sobre os ciúmes que o Rafael poderia vir a sentir dos irmãos e até sobre a forma de preparar os manos mais velhos para a chegada dos mais novos, mas, sinceramente, foi sempre um tema que me deixou algo apreensiva. Sempre receei que o meu birras mais velho se comportasse de uma forma diferente após o nascimento dos irmãos e não me perguntem porquê. Ele só tem três anos e sempre foi muito ciumento quando outras crianças estão por perto, mas, confesso, estava à espera que fosse pior. É certo que o preparámos durante os oito meses de gravidez e desde o nascimento sempre nos esforçámos para que não se sentisse minimamente excluído, mas a verdade é que o resultado superou, e muito, as nossas expectativas. Ainda que não seja muito justo sermos nós a ficar com todos os louros, porque muito vem da essência especial deste menino que tem tanto de birrento como de amoroso.

Os altos e baixos dos primeiros tempos

Os dias têm sido uma autêntica loucura. Entrar na rotina é sempre o mais complicado, mas sei que acabarei por conseguir. Muitas de vós me questionam como posso ter esta postura tão descontraída e fazer as coisas sempre com um sorriso no rosto. Bem, confesso que é todo um processo cheio de altos e baixos. Aprendi muito durante o internamento, sinto que cresci e me tornei uma mulher mais forte. Tive muito tempo para pensar e projetar a mãe que queria ser quando eles nascessem, mas não posso dizer que esteja a ser fácil. Se com um filho as coisas já são difíceis, imaginem com três em que dois deles são recém-nascidos.

Tento sorrir muito, brincar com o mais velho sempre que está em casa e integrá-lo em todas as tarefas, tento não esquecer que também sou mulher e procuro tratar de mim, mas também já chorei, já me olhei ao espelho e não gostei do que vi, já tive de me chatear e arrepender-me em seguida, já gritei com quem não devia. Tudo isto exatamente porque os dias não são assim tão simples como parecem.

O prometido é devido

Prometi ao Rafael que conheceria os manos no dia seguinte ao nascimento. Fiz-lhe várias promessas que não consegui cumprir, mas esta não poderia falhar.

Os gémeos nasceram a 16 de outubro e no dia 17 tiveram de ir para a Neonatologia, mas apenas fui informada quando o Rafael e o meu pai já estavam a caminho do hospital. O horário de visita naquele espaço é mais apertado e, quando chegaram, estava prestes a terminar. A pediatra aconselhou-me a não o deixar entrar, porque poderia ficar chocado com aquele cenário (os gémeos estavam na incubadora, despidos e cheios de fios). Não segui o seu conselho, conheço o meu filho e sei que isto iria passar-lhe ao lado. Sei que iria ficar todo entusiasmado por os ver, nem que fosse apenas por um minuto.

Amor Eterno

Fico a contemplar-vos e sinto o meu coração a transbordar de amor. Um tipo de amor que já me havia sido apresentado pelo vosso irmão, Rafael, e que pensava ser possível sentir apenas por ele. Tinha medo de não sentir o mesmo por vocês, mas enganei-me.

Lutei durante muito tempo para que crescessem dentro de mim, fortes e saudáveis. Pedi a Deus, todos os dias, para nascerem apenas a partir das 36 semanas e fui atendida. Tentei manter-me tranquila e positiva, por mim e por vocês, para que viessem calmos a este mundo. Disse muitas vezes ao vosso pai que estava tudo bem, quando o meu desejo era fugir daquela cama de hospital. Deitei cá para fora tudo o que estava a sentir, chorei muito, mas apenas durante um único dia em dois meses de internamento. Quando via o vosso irmão, um nó na garganta crescia rapidamente e tornava-se difícil controlar as emoções. Mas ele nunca me viu chorar.

O caos das primeiras noites

Eles são muito calmos, até ver, mas a amamentação destruiu-me física e emocionalmente. Fizemos, literalmente, diretas para amamentar os dois, quando conseguia tratar de um já eram horas de mamar o outro. A pega não estava a ser feita como deve ser, os mamilos começaram a ficar massacrados e tiveram de me emprestar uns de silicone. O problema é que eram do tamanho L, gigantes para bebés tão pequenos. Quando se deu a descida do leite, as dores tornaram-se horríveis, tentei extrair com a bomba e nada saía, eles não conseguiam mamar e ficavam, para além de esfaimados, claramente impacientes (irei escrever um artigo sobre a amamentação dos gémeos para que entendam, ao pormenor, tudo o que passei e como os implantes influenciaram bastante). Para piorar, eles começaram a beber suplemento e tiveram muitas dificuldades. Engasgavam-se e bolsavam imenso, ao ponto de o pai chegar a correr pelos corredores do hospital em busca de uma enfermeira porque chegaram a deixar de respirar. Tiveram até de ser aspirados, porque tinham muitos restos do parto no estômago e ficavam maldispostos. Conseguem imaginar a nossa preocupação?

Deu negativo. Está mesmo tudo bem!

Aqui há uns dias publiquei um artigo sobre a minha mãe e sobre o seu estado de saúde. Muitas de vocês têm perguntado por ela e acho uma ternura essa preocupação, obrigada!

O facto de ter partido um braço há pouco tempo, não podendo recuperar a 100% como antigamente, e a operação ao peito para saber se teria cancro da mama têm atormentado muito o seu estado de espirito. Eu, pelo contrário, sempre estive muito positiva e confiante em relação a este tema. Não me perguntem como, nem porquê, mas dentro de mim sabia que estaria tudo bem e transmitia-lhe isso diariamente.

16/10/18: uma data para não mais esquecer

A noite de segunda para terça-feira (15 para 16 outubro) não foi diferente das outras: contrações, dores, falta de força e um desgaste físico enorme, mimos do filho e do pai, que nunca são demais, e logo um alívio muito bem-vindo.

A consulta de obstetrícia estava marcada para as 14h, mas antecipei-me e às 13h já estava no Hospital de Vila Franca de Xira. Imaginam a ansiedade, certo? Maquilhei-me, estiquei o cabelo e vesti uma roupa que me fizesse sentir minimamente bem, sem parecer uma Bola de Berlim. Nesta altura tudo serve de justificação para me sentir mais bonita.

Entro para a sala de enfermagem, tranquila, faço o CTG, está tudo bem com os bebés e as contrações continuam irregulares. Volto para a sala de espera a aguardar pela consulta com a médica. Mas, de repente, começo com uma pressão muito forte no fundo da barriga, senti os meus bebés muito agitados e algo estava diferente. Algo me dizia que não iria passar daquele dia.

Estou cansada

Estes dias sem escrever no blogue e sem postar uma única foto no Facebook ou no Instagram fizeram-me bem. Desculpem a minha ausência e acreditem que pensei muito em vocês, mas precisava dedicar-me a um tema que descurei nos últimos dois meses: o meu filho, a minha família. O tempo não voou para mim, antes pelo contrário, demorou muito a passar e continua a demorar, não vejo a hora dos gémeos nascerem. Sei que a maioria das pessoas me pede para descansar, mas, não consigo, é impossível essa palavra constar no meu dicionário no momento atual.

Na quinta-feira passada, mais uma vez, recebi alta e tive oportunidade de vir para casa, junto dos meus. Se até eu fiquei confusa, imaginem o Birras mais velho. A razão da alta? Tive mais uma semana internada, com dores e contrações, mas o colo permaneceu na mesma. Fez-se uma ecografia para ver como estavam os bebés e estão bem, por isso decidiram dar-me alta.

Levo amigos (novos) para a vida toda

Mas, afinal, onde estive internada durante o primeiro período de internamento (os 45 dias)?

Algumas de vocês reconheceram o sítio pelas fotos que ia postando. Na verdade, no momento em que me disseram que iria para aquele hospital o meu coração disparou. Tratava-se do Amadora Sintra e só me apeteceu deitar as mãos à cabeça por ser transferida de Vila Franca de Xira para ali. Mas, confesso-vos, foi o melhor que me poderia ter acontecido.

Ouvimos muitas coisas menos positivas sobre este hospital e sim, em outras ocasiões, também senti na pele algumas delas, mas desta vez não tenho nada a apontar nem ao hospital nem ao serviço em que estive. Eram 27 semanas de um amor a dobrar, mas uma incerteza enorme em relação ao futuro. Cada dia era uma vitória, mas uma batalha nunca se vence sozinha.