Quando a fertilização in vitro é a única opção - Birras em Direto

Quando a fertilização in vitro é a única opção

Há pouco tempo conheci a Marta, uma Mulher cheia de força, com uma enorme garra para enfrentar o Mundo. Contou-me a sua história… Com um percurso exaustivo, mesmo muito cansativo, mas sempre com uma visão positiva. A Marta fez fertilização in vitro para conseguir ter a sua Inês, uma menina linda! 5 anos de dúvidas, de perguntas sem respostas, desilusões, fracassos mas acima de tudo de esperança e o final? Esse é feliz!

Fica aqui a entrevista que fiz à Marta: 

Sempre desejaste ter filhos?

Curiosamente desde a adolescência que dizia que achava que não ia conseguir ter filhos, nem que ia casar, portanto foi algo que sempre me incuti (não sei porquê). Achava mesmo que não ia casar e não ia ter filhos. Cheguei mesmo a comentar com amigas!

Como começou a batalha da maternidade?

Quando conheces AQUELA pessoa, e sabes que é para vida toda, muda tudo. E eu que tão firmemente achava que não ia casar, casei. E a seguir aquela vontade de no futuro termos uma família, acabou por fazer com que fosse ao médico em 2006, no ano em que casei, para começar a ser acompanhada de outra forma. E foi aí que soube que tinha quistos em ambos os ovários. O primeiro comentário do médico foi que normalmente em ambos não é maligno. E a verdade é que não eram. Mas eram borderline. Soube isto na primeira cirurgia que fiz, em 2008 e na qual fiquei apenas com metade do ovário esquerdo. O médico nem mexeu no direito, porque aí tinha de sair todo. E acabou por sair mesmo em Março de 2009, porque eu não estava com o ciclo regulado e tinha algumas pontadas no ovário de dor. E eis que a partir daí o médico nos informou que com meio ovário, e com células ainda borderline no que sobrava, era melhor fazer a FIV (fertilização in vitro) para sermos certeiros. Ainda fiz uma outra cirurgia (a terceira) em 2009 para saber se tinha destas células espalhadas na barriga. Não tinha e apesar de ainda ter tido uns problemas com médicos pelo caminho, a verdade é que acabei por chegar a Coimbra, à minha médica Dra. Teresa Almeida Santos.

Foi um processo doloroso? 

Muito. Quer a nível psicológico, quer a nível físico. Só mesmo quem passa é que sabe. É a pressão dos exames médicos, das perguntas (que embora sem maldade, temos de lhes fazer face), o desgaste físico e mental, é muito violento. 

Precisaste de acompanhamento psicológico? 

Felizmente não!!! 🙂 Acho que a depressão que tive aos 18 anos, ajudou-me a lidar com tudo de outra forma. E o facto de não estarmos completamente focados em ter filhos (tínhamos planos para ambas as situações, com ou sem filhos) e isso acabou por nos ajudar a ultrapassar e o meu marido consegue-me fazer rir de tudo. São poucas as situações em que não nos conseguimos rir e desanuviar aos dois. 

Achas que Portugal está preparado para lidar com este tipo de situações? 

Portugal como país, como um todo, não. Passei por situações em Lisboa que não desejo a ninguém. Coimbra sim, está muito evoluído neste campo. 

O que sentiste durante aqueles anos todos?

Do primeiro dia ao último, passaram 5 anos. Muitos anos neste limbo do acontece, não acontece. Nunca me permiti sentir muito. Não criar expectativas e não desmoronar. Cabeça erguida e vamos lá. 

Chegaste a perder a esperança? 

Algumas vezes. É uma onda de sentimentos que depois não te queres dar ao luxo de sentir, mas sentes e depois andas ali naqueles altos e baixos. Mas tínhamos planos. Se não conseguíssemos engravidar, íamos adoptar. Essa decisão ficou tomada e resolvida. Por isso, íamos ter filhos. Biológicos ou não. 

Quando soubeste que estavas grávida chegaste a ter receio dos 9 meses seguintes? Como correu a gravidez?

Foi um medo brutal! Mais uma vez nem vivi a gravidez em pleno, com receio do que podia acontecer. Tive as primeiras semanas de cama, em repouso. Depois por volta das 7 semanas comecei a perder sangue. Aí desmoronei. Chorei, chorei chorei… Fiquei em repouso e depois percebeu-se que não havia motivo físico para a perda de sangue. Estava tudo bem comigo e com a bebé. A partir das 10 semanas correu tudo super bem, até às 26 semanas. Saiu grande parte do rolhão e fiquei internada em Santa Maria na Unidade Materno-Fetal. Fui muito bem tratada. Aquela equipa de enfermeiras é uma coisa do outro mundo, são muito boas pessoas!!! Conheci imensas pessoas com quem falo ainda hoje. Sai às 34 semanas do Hospital e a minha princesa nasceu com quase 36 semanas. Sempre apressada para nascer!!

Hoje a tua pequenina é saudável? 

Muito mesmo. Em 4 anos e meio, nunca esteve doente a ponto de ir ao hospital. Teve displasia da anca, teve de ser tratada por cirurgia, mas isso podia acontecer com uma bebé que nasceu de FIV ou não. 

Que conselhos darias a quem está a passar pelo mesmo? 

Avisem as pessoas mais próximas, família ou amigos, e criem um sistema de apoio. Digam às pessoas só o que querem dizer e o que vos ajude a ultrapassar tudo e a aceitar com naturalidade o processo que estão a passar. Essas são as pessoas que vão apoiar “no matter what”. E falem com outras pessoas que já passaram ou estão a passar pelo mesmo. Essas são as que vos vão entender. Mas falem. Não guardem tudo no peito, porque depois é aí que se forma uma bola pesada que não deixa respirar. E façam planos para o futuro. Ele está lá à vossa espera, e venha o que vier, sejam felizes.

 

Lê também estes Artigos

Sem Comentários

Deixar Resposta