São quase 23h, as crianças estão a dormir, a casa está organizada, o dia seguinte está planeado e decidi refletir sobre o meu futuro profissional… Um futuro incerto mas nada confuso na minha cabeça! Sei bem aquilo que quero, tenho alguns projetos em mãos que vão avançar brevemente mas apesar de os adorar, o meu coração continua a bater freneticamente pela minha área profissional. As borboletas aparecem na minha barriga sempre que me visualizo na situação e acreditem que consigo sentir que já é realidade.
A partir do momento que abracei a maternidade tive de fazer uma escolha, tomei a decisão mais difícil da minha vida. Optei pela minha família e deixei para trás um emprego de sonho para muitos! Apresentava um programa de turismo e viajava pelo mundo para dar a conhecer os mais belos locais. Sou licenciada em jornalismo mas o entretenimento sempre falou mais alto que a informação. Despedi-me pois o meu filho, na altura com apenas 2 anos, começou a sentir a minha ausência, a sua insegurança começou a ser bastante notória, a revolta estava presente, deixou de dormir na escola, pouco comia e perguntava constantemente por mim. Um emprego que exige que fiques fora durante semanas não combina com a maternidade mas trabalhei horas a fio e nunca me queixei porque amava realmente o que fazia.
Licenciei-me em Ciências da comunicação – Jornalismo na Universidade Independente. Comecei por escrever para um jornal da minha cidade; fiz reportagens para o Canal V da Cabovisão e para o SAPO, entrei no CC Casting e também fui finalista no casting para ser a apresentadora oficial do Rock in Rio; apresentei magazines culturais na TVI24 e na Record TV Europa; entrevistei figuras de renome a nível nacional e internacional; viajei pelo mundo; fiz publicidade; dei voz a documentários, entre outras coisas mais. Estava a viver o meu sonho!
Ganhei muita bagagem e o meu lado aventureiro esteve sempre à flor da pele. Num dia saltava de para-quedas a mais de 300km/h, no outro estava a fazer rafting no rio Jordão na fronteira com a Síria, fiz voos acrobáticos, perdi-me nos recantos de Israel e quase fui raptada por um suposto “médico”, estive em temperaturas de -30º e sobrevivi (apesar de ter chorado o tempo todo)… Esta foi a minha vida durante anos!!!
Nascida no fogo do mês mais quente do ano, tenho no meu âmbito viver a liberdade como uma fera na savana. Os leões também são o meu encanto, a minha inspiração, todo o seu porte, a sua determinação, o seu poder em cada passada suave e determinada, leva-me a sonhar ao seguir o meu caminho. Luto por tudo com garra, sou persistente, teimosa, ambiciosa e determinada.
Sei que na altura meti um ponto final no meu emprego e dei prioridade à minha família mas sempre com o pensamento num regresso. Quem me conhece sabe o quanto eu amo a minha área.
Despedi-me mas não abandonei a comunicação, decidi criar um blogue de maternidade. Passados poucos meses engravidei de trigémeos mas infelizmente um não desenvolveu. Hoje sou mãe do Rafael de 4 anos e dos gémeos Diego e Diana de 8 meses.
Sinto a pressão da sociedade para regressar ao trabalho mas também sinto essa pressão em mim!
Durante a licença de maternidade ponderei muito se devia arriscar numa outra área, dedicar-me à empresa do meu marido de Marketing Digital e seguir outro percurso. Sentia-me confusa e parecia que tinha perdido o rumo. Pensei muito no assunto mas não posso ir numa outra direção quando o que me faz vibrar são as histórias e a partilha das mesmas com o público, é a preparação de uma reportagem, o improviso na apresentação de um programa, a curiosidade numa grande entrevista e o resultado final no pequeno ecrã. O meu marido diz-me que posso fazer tudo isto no blogue e faço mas quem trabalha em televisão sabe a adrenalina que é um dia de trabalho e eu sinto tanta falta dela.
Mas afinal o que me atormenta nos piores dias? Quais são as dúvidas que pairam na minha cabeça? O que atropela a minha energia e a forma positiva como encaro a vida?
Ainda haverá espaço para mim na televisão? Será que querem uma mulher com 32 anos, casada e com 3 filhos? O que terei eu de especial para conseguir regressar ao meu mercado de trabalho e passar à frente de todas as novas caras bonitas que finalizaram agora o curso? Tinha um bom ordenado e estava efetiva, será que as condições serão tão boas como as que tinha? É tão difícil exercer a minha profissão outra vez…
Já me disseram que não posso ter o melhor dos dois mundos. Não posso ter uma linda família, ser uma boa mãe e estar bem casada e ser uma mulher de sucesso a nível profissional. Mas porque raio não posso? Digam-me onde está escrito? Eu trabalho muito para ser boa a nível profissional e todos os dias aprendo e sei que nunca ficarei satisfeita pois sou muito exigente com o meu trabalho. Tenho de conseguir, a minha felicidade não depende apenas da minha relação e da maternidade. Irei sentir-me completa quando finalmente voltar a exercer a minha profissão.
Mas afinal quando será esse momento?
Este é um pequeno excerto de um texto conhecido que me caracteriza: “Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes. Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Podes até empurrar-me de um penhasco que eu vou dizer: E daí? EU ADORO VOAR!”
Um beijinho
Marta Rodrigues
Sem Comentários