Sabias que a depressão pós-parto afeta cerca de 20% das mulheres? Começa, por norma, assim que o bebé nasce e dura até dois anos. Embora seja uma doença mais recorrente nas mulheres, os homens podem também padecer deste mal. Um tema complicado de falar sem conhecimento de causa e, como tal, decidi entrevistar uma amiga de longa data, a Alejandra Fonseca.
Já não falávamos há algum tempo, porque a vida assim o quis. Estamos a viver em países diferentes, mas sempre foi uma pessoa especial. Conheci a Alejandra há cerca de 10 anos, quando fiz uma reportagem sobre acupuntura e a entrevistei por ser especialista desta terapia alternativa. Voltámos a falar há pouco tempo e, ao metermos a conversa em dia, surgiu este tema. Pedi-lhe logo que me falasse um pouco mais sobre o mesmo.
– Alejandra, como correu a gravidez?
A gravidez foi muito complicada. Tive a síndrome de Hyperemesis gravidarium, o que significa que, praticamente durante todos os meses da gravidez, não consegui comer por estar constantemente a vomitar e com tonturas. Perdi muito peso. Só aos sete meses e meio acalmaram os sintomas e comecei a comer. Não muito, mas era melhor que nada e foi aí que a minha barriga cresceu… bastante.
– Como foi o pós-parto?
Nada fácil. Tive três dias de parto! Sozinha com o meu marido, num país com regras e costumes diferentes. Foi uma experiência para esquecer, que me deixou marcas psicológicas. A juntar a isto, tive de ficar uma semana inteira no hospital, por ter perdido bastante sangue durante o parto, e fui informada que o meu bebé poderia ter Septicemia. Ele começou a fazer um antibiótico diário, com apenas um dia de vida, e por tudo isto fiquei com um trauma daquele período. Claro que tudo isto, e o facto de não ter conseguido amamentar, conduziu-me à depressão. Foram momentos horríveis.
– Como soubeste que poderias estar a sofrer de depressão pós-parto?
Soube logo que iria evoluir de “baby blues” (os três dias após o nascimento de um filho, em que as hormonas estão a regularizar no nosso corpo) para depressão pós-parto. Depois de ter tratado nas minhas consultas de medicina chinesa e homeopatia de várias pessoas com depressão e depressão pós-parto, identifiquei logo o que tinha. Ao longo da minha gravidez fui lendo na internet e em alguns livros sobre o assunto, mas nada nos prepara para o que temos de enfrentar.
– Quais foram os sintomas?
O primeiro sintoma é evidente: as lágrimas não param de cair mesmo quando estamos a abraçar aquele ser pequenino e precioso, levando-te a pensar “Mas porque estou assim?”. Só que vamos repetindo essa pergunta muitas vezes, em vários dias seguidos.
O segundo sintoma foi o facto de não querer sair de casa. A Agorafobia (medo de sair de casa) apareceu e ficou durante muito tempo. Sair de casa, para mim, era apenas durante cinco minutos e começava logo a ficar com ataques de ansiedade e tinha de voltar a correr. Num país onde começaram a acontecer atentados terroristas, em que dois dos quais podia ter sido atingida, digamos que nada disto me ajudou com a doença.
O terceiro sintoma foi a constante vitimização: “porque tudo me acontecia?”, “Porque as minhas amigas tinham tido gravidezes maravilhosas e partos espetaculares, e eu era sempre a mesma azarada?”. Obviamente, numa pessoa deprimida, esta vitimização é normal. É, aliás, uma tentativa positiva da pessoa se analisar, perceber o que se está a passar, e a tentativa de encontrar um caminho para sair da depressão. Por isso, às vezes, um bom drama, a veia de “Drama Queen”, pode ser um passo firme na direção certa. No meu caso foi assim.
– Como conseguiste superar a depressão?
No país onde me encontro, as mães ficam em casa com os filhos até, pelo menos, aos três anos e sendo eu freelancer, a trabalhar a partir de casa, foi exatamente isso que me ajudou a ultrapassar. Embora os médicos tivessem insistido nos antidepressivos, eu sempre os recusei.
Eu sou a favor da medicina natural. Isto não invalida os méritos da medicina alopática, mas eu considero que esses comprimidos só irão suprimir emoções e não curar.
As pessoas têm que ser realistas: uma droga não cura. Apenas suprime o verdadeiro problema, fazendo da depressão uma falsa cura ou uma mentira mascarada.
Optei por continuar a escrever no meu blogue diariamente e passar mais tempo com o meu filho a fazer projetos que criassem memórias. Retornei à escrita de livros que hoje estão publicados. Optei por fazer meditações (que já fazia anteriormente) e aprendi novas línguas. Manter a minha mente ocupada foi a melhor coisa.
Existem várias formas para conseguirmos ultrapassar a depressão pós-parto. Há quem faça ginástica, quem pinte, quem faça até costura ou outro hobby.
– No teu ponto de vista, existe alguma forma de prevenirmos a depressão pós-parto?
Eis uma coisa que na teoria parece muito bonita, até se passar por ela. Acho, sinceramente, que não existe, só quem passou por esta situação consegue compreender. Não se consegue explicar o que se sente numa depressão pós-parto. A teoria está la, mas o sentimento não. Não se consegue descrever um buraco sem lá ter caído.
Se eu tiver um segundo filho já vou preparada. Claro que tenho medo de voltar àquele “buraco mental e infeliz”! Óbvio que sim. Mas, mesmo assim, acho que a busca do conhecimento na leitura, pesquisando, ou até no falar com pessoas que já passaram pelo mesmo pode ajudar.
A depressão pós-parto não pode ser ignorada, não pode ser desvalorizada. A mãe tem de estar bem para conseguir dar o melhor ao seu maior tesouro. Se tiveres sintomas como tristeza constante, sentimento de culpa, baixa autoestima, cansaço extremo, medo de ficar sozinha, falta de apetite, pouco interesse pelo teu filho e achares que não consegues cuidar de ti nem do bebé, procura ajuda. Os primeiros dias podem ser um autêntico inferno e é perfeitamente compreensível que assim seja, mas se esses sintomas durarem mais tempo não hesites em procurar ajuda de um especialista!
Um beijinho
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